terça-feira, 11 de agosto de 2009

A GAMELEIRA

A Gameleira, soberanamente fincada no ponto mais alto da cidade, era a testemunha muda dos acontecimentos que ficaram sepultados no passado. Vários fatos se desenrolaram á sombra de sua imensa copa.
Acima da beleza da cidade, dos recantos pitorescos que a circundam, da paisagem que sempre esteve a desafiar o pincel de um artista ou a emoção de um poeta, acima dos espetáculos de luta , do material humano que deu vida ao passado, acima de tudo isso, erguia-se de fronde majestosa, a secular gameleira, a cuja sombra cantavam trovadores e se inspiravam os poetas.
Desde que Areia é Areia, a gameleira existiu como se fosse tempo pagão. Era o céu verde da cidade, na expressão feliz de José Américo de Almeida. O povo tinha pela imensa árvore uma veneração quase religiosa. Conta-se que de longe , a 50 quilometros de distância ou talvez mais, via-se o colosso, na majestade de seu porte, a assinalar, como gigante solitário da floresta, a presença da cidade, que nasceu a seus pés e cresceu a sua sombra.
Março de 1931. Areia assiste ignara o espetáculo da derrubada da árvore. Não escapou da ação destruidora do homem. Horácio de Almeida foi voz contrária a derrubada. Alegava-se que a árvore ameaçava ruir/cair. Os supersticiosos viam uma caveira na copa da árvore e alegavam que Areia só sobreviveria se a gameleira morresse pois foi também numa árvore frondosa que fora enforcado o discípulo traidor de Jesus. Um prefeito (? ) entendeu que a salvação da cidade estava na derrubada da árvore.

Com a derrubada do marco histórico, ficou a cidade sem expressão de grandeza, reduzida em sua configuração a um aglomerado de covas rasas. O tronco media cerca de 15 metros de circunferência. Eram necessários 8 homens para abraça-la. Coelho Lisboa soberbo dizia que Paris talvez se tivesse uma árvore daquelas poderia ser comparada a sua cidade natal.
“A Gameleira, tocando os céus, é um gigante de pé, que concentra todas as tradições de Areia. Parece também uma sentinela da cidade. Pois bem, nela não achou o presidente (Álvaro Machado) o menor motivo de admiração e, ao pé do colosso, sentia-se triste, ainda mais triste”. (Jornal Democrata – 12 de dezembro de 1894).

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