sexta-feira, 21 de agosto de 2009

CURIOSIDADE SOBRE PEDRO AMÉRICO

... e lá se foi a única lembrança que Pedro Américo deixara em sua terra natal


A triste história do galo pintado por Pedro Américo
na parede da mercearia de seu pai

Nasceu Pedro Américo de Figueiredo e Melo na cidade de Areia, importante elevação da região nordestina, Paraíba, em 29 de abril de 1843. Filho de Daniel Eduardo de Figueiredo e d. Feliciana Cirne, família de poucos recursos, mas de prestígio na sociedade local, em uma época em que se vivia, no lugar, um período de grande movimentação política e cultural.

Ainda muito criança, Pedrinho, como era conhecido, revelava-se o menino-prodígio que nascera: modelava bonequinhos com miolo de pão, fazia retratos, paisagens e demonstrando grande talento para as artes, improvisava em sua cidade natal um teatrinho, do qual era ao mesmo tempo diretor, ator e cenógrafo, ao mesmo tempo em que compunha as peças, arremedos de dramas e comédias, fazia os cartazes de anúncio e imprimia os bilhetes, num engenhoso aparelho que ele mesmo construiu com pedacinhos de madeira.

Aos nove anos de idade, na pequena mercearia de seu pai Daniel Eduardo, desenhou na parede, à altura do balcão, em alto-relevo, um galo que a todos causou enorme admiração.

O estabelecimento comercial de seu pai ficava na Rua Direita, nº 68, já então chamada de Rua D. José Evaristo.

Daniel Eduardo manteve-se como proprietário do imóvel onde tinha instalado sua mercearia por alguns anos e depois passou adiante o imóvel. Primeiro, instalou-se nele um seleiro, seguido de um quinquilheiro, de uma redação de jornal, de uma república de rapazes e, finalmente, de um açogueiro.

A tudo resistiu o galo deixado pelo menino na parede do estabelecimento, intocável, soberbo na coloração de suas penas, pintado a três cores. Ninguém ousava macular o sombreado daquela pintura: única lembrança que o artista Pedro Américo deixara em sua terra natal.

O açogueiro, último inquilino do imóvel, na ânsia de ampliar as instalações de seu comércio, se viu obrigado a derrubar a parede a fim de ganhar mais espaço para atender melhor sua clientela.
Quando os pedreiros, de ferramentas na mão, preparavam-se para cumprir o nefasto intento, eis que chega à cidade de Areia um sujeito que, passando-se por indivíduo enérgico e decidido, fez paralisar o serviço. Era o senhor Firmino Costa, jornalista que determinou que os operários poupassem o galo. Era preciso recortar a parede com mãos hábeis para retirar dela um bloco intacto, onde estava o galo desenhado.

E assim foi feito. Firmino Costa transportou o galo em charola e com ajuda de amigos, levou-o para a redação do jornal areiense “Democrata”. E, em frente à sede do jornal, Firmino mandou construir um pedestal para ser posto nele, o “salvo” da demolição.

Dias depois, quando o bloco de parede com o galo pintado, erguia-se para ser colocado no pedestal recém-construído, eis que, devido à argamassa magra e não tão resistente a mudanças, o bloco de parede cai, e em forma de farelo, esparrama pelo chão, morrendo ali a única lembrança deixada pelo artista na terra do seu nascimento.

Este fato aconteceu em 1894, conforme nota colhida no jornal “Democrata”, na edição de 25 de julho.
NOTA DO AUTOR: O município de Areia – pérola do Brejo paraibano, permaneceu durante muitos anos sem uma única obra de seu filho mais ilustre. Somente em 18 de maio de 1972, graças ao esforço inconteste do cônego Ruy Barreira Vieira – o Padre Ruy, o município areiense viu nascer o “Museu Regional de Areia”, portando livros e documentos do artista, além de reproduções de seus quadros e a tela Cristo Morto, de 1901, único quadro original de Pedro Américo existente em Areia, tela doada pela família Cardoso de Oliveira, furtada tempos mais tarde e, misteriosamente reaparecendo no Colégio Santa Rita, de Areia, aonde chegou através dos Correios e Telégrafos, com carimbo da cidade de São Paulo.
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VARANDAS, Edival Toscano. ... e lá se foi a única lembrança que Pedro Américo deixara em sua terra natal. Available from World Wide Web: URL: eliezergomes.com/ . Acessado em: 21/08/2009

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