terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

MINHAS LÁGRIMAS, MEU ALIMENTO

No salmo 42, nós vamos encontrar uma lamentação, e por que não dizer uma prece que brota do coração de alguém que viveu momentos de profunda angústia e ao mesmo tempo de desamparo. Vejamos na íntegra o que este sofredor diz: “As minhas lágrimas têm sido o meu alimento”. Não sabemos se o autor destas palavras era uma pessoa enlutada. Mas bem que poderia ser, pois as lágrimas, o sentimento de abandono, o desamparo e a solidão aqui expressos são sintomas que freqüentemente acompanham a perda de uma pessoa próxima e muito cara.

Eu, particularmente, perdi alguém, ou melhor, eu já perdi muitos a quem eu amava e posso compreender muito bem isso, e, precisamente em 06/02/2010, próximo passado, mais uma vez eu me senti assim... Durante a maior parte do dia, as minhas lágrimas foram sim, o meu alimento. Eu perdi minha tia querida... Tia Luzia ou Tia Ló, como a chamávamos, partiu para uma viagem sem volta.

Interessante, é que a única certeza que temos na vida é que todos morreremos um dia... Mas, a grande maioria das pessoas, não está pronta para ver arrancado de sua vida alguém que ama.
Eu sou uma delas! Quando isso acontece, somos acometidos de uma saudade diferente. É uma saudade amarrada pela certeza de que nunca vai passar. A gente apenas se acostuma a conviver com a ausência, mas não esquecemos, não deixamos de sentir falta… As memórias permanecem, o peito aperta em cada lembrança, e só o tempo mesmo, para acalmar o coração…
Assim, a morte, tem sido motivo de muito pranto, dor e sofrimento. Isto, no entanto, não é um privilégio só nosso, Jesus, o Deus que se fez homem e habitou entre nós, deu a devida importância para o luto e o pranto com expressões de dor e de sofrimento. “Bem aventurados os que choram, porque serão consolados”, disse Ele no Sermão do Monte (Mt 5.4). Sem dúvida, o significado destas palavras do Senhor é muito profunda, no entanto, inclui a idéia de que, para haver consolo, é importante que o sofrimento e as lágrimas sejam externados. Aliás, segundo o Evangelho, o próprio Jesus, ao saber da morte de seu amigo Lázaro, “agitou-se no espírito, comoveu-se... E chorou”. O que eu aprendo com tudo isso? Eu aprendo que Jesus não somente era misericordioso com o sofrimento alheio, Ele também era solidário com a dor do próximo. E é exatamente pelo motivo “solidariedade” que resolvi postar o presente texto.

Quem já visitou este cantinho, ou mesmo quem me conhece sabe do carinho e do respeito que tenho pelos meus irmãos/conterrâneos areienses. Confesso, no entanto, que fiquei decepcionada sábado próximo passado (06/02/2010).

Areiense da gema, e ainda em vida, minha inesquecível tia Luzia, manifestou o desejo de fazer do berço do seu nascimento, também o seu jazigo perpétuo. Assim é que, no intuito de atender o seu desejo, na data supra citada, saímos em cortejo fúnebre de Campina Grande, onde ela residia, para ali na sua terra natal, na cidade onde ela viveu a maior parte de sua vida, na cidade que alimentou todos os seus sonhos de menina/mulher, despojar os seus restos mortais. E qual não foi o nosso desapontamento quando verificamos que poucos foram os que se fizeram presente ao seu velório apesar de todas as rádios da cidade terem anunciado e convidado amigos e conterrâneos para este último ato de fé e solidariedade cristã.

Na nossa cultura ocidental há uma tendência para se negar a realidade da morte. Cresce o número de pessoas que fogem do confronto com a sua própria transitoriedade e com o seu próprio fim. E, na medida em que isso acontece, cresce o apego das pessoa a esta vida.

Algumas décadas atrás, pelo menos em nossa sociedade ocidental, se escondia o fator nascimento enquanto se observava um relacionamento mais natural com a morte. Hoje está ocorrendo o inverso: fala-se com mais realismo sobre o nascimento e, de maneira crescente, o tema da morte é evitado ou reprimido.

Ainda me recordo dos tempos de infância. Ninguém falava abertamente comigo sobre a forma como as crianças são concebidas e como elas nascem. Um véu de mistério, alimentado pela história da cegonha, encobria essa realidade. Em compensação quando alguém estava doente e vinha a falecer, as crianças acompanhavam de perto todas as etapas desse processo: enquanto o doente, era visitado livremente em seu quarto e, depois de falecido, participavam do velório que tinha lugar em casa, eram animadas a tocar no falecido, acompanhavam o cortejo fúnebre e os atos de encomendação e sepultamento.
Hoje se fala com maior franqueza com as crianças sobre a concepção, a gravidez e o parto. Salvo exceções, encara-se as questões que dizem respeito à natalidade com relativa naturalidade. Por outro lado, a realidade da morte está, de forma crescente, sendo exorcizada da vivência cotidiana tanto de crianças como de adultos. Na Bíblia, porém, há um testemunho inequívoco de que esta vida é apenas um estágio rumo a uma vida futura junto a Deus. O autor da Carta aos Hebreus afirma “... não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir” (Hb 13,14). O Apóstolo Paulo, por sua vez, dizia com toda convicção e fé: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1,21).

A Bíblia ainda relata que no caminho ao calvário (Lc 23.27) e aos pés da Cruz Maria, mãe de Jesus e algumas mulheres solidarizavam-se com a dor e a morte do mestre querido (João 19.25), razão pela qual a lamentação e o pranto em casos de luto estão amplamente testemunhados nas Sagradas Escrituras como uma manifestação natural e sadia do ser humano, tanto para externar um sentimento da própria alma em relação à uma perda pessoal, quanto uma forma de solidariedade com a dor alheia.

Na verdade, a nossa sociedade apressada não quer saber disso. Não temos mais tempo para chorar. Ou então choramos a caminho de algum lugar, ou enquanto executamos alguma atividade. E foi com o coração dilacerado pela decepção que concluí que os nossos conterrâneos tem se preocupado mais em ostentar o glamour de sua cultura em detrimento a dor e ao sofrimento dos seus compatriotas.
Que pena!

Um dia, porém, todos vamos morrer… e esta situação me fez pensar no quanto é importante se preocupar com o que andamos fazendo na vida… Eu por exemplo, queria poder ter mais tempo pra chorar, mas ela, minha tia, tenho certeza de que só ficaria feliz se me visse rindo… Ela sempre ficava feliz quando estávamos todos bem. Por isso, em meio às lágrimas, e apesar de tudo, o riso já estampa meu rosto, em homenagem a ela, que passava a vida a sorrir… Um dia estaremos cada um de nós, deixando esse mundo. Você também que deixou de lhe prestar sua última homenagem. Por isso, enquanto eu estiver aqui, quero aproveitar cada momento que eu posso ter ao lado das pessoas que amo. Jamais esconderei meus sentimentos, mesmo correndo o risco de ser chamada de antiquada, quadrada, sentimental ou seja lá o que... Quero aproveitar cada segundo ao lado de todos aqueles que amo e que precisarem de uma palavra amiga ou de um gesto solidário de carinho, compreensão e amor… Chorarei pela perda de cada um que amo, mas também farei brilhar no rosto um sorriso, por ter podido compartilhar tudo o que foi possível enquanto estavam ao meu lado.

Elisabete Casado



Um comentário:

Edmundo disse...

Sim mana, morreremos um dia, mas a dor só é ruim para quem permanece aqui. Nossa tia Ló está muito bem, seus irmãos a receberam com festa no patamar lá de cima. Não sei porque, mas eu me sinto um tanto aliviado com sua subida ao ceu, pois não suportava visita-la vendo-a naquele estado fisico,suportando em silencio sua dores. Vc reclama da pouca presença de amigos dela no seu velorio na nossa Areia amada, mas se conforme, a humanidade a cada dia que passa se comporta de maneira insensivel diante das dores do seu semelhante, o amor ao próximo está se apagando do coração da humanidade. Deus que lhe abençoe para que vc permaneça com a mente iluminada, derramando sabedoria para escrever coisas belas como estas suas mensagens!