sábado, 23 de outubro de 2010

TUDO FOI TÃO DE REPENTE

A notícia chegou de repente e sem entender direito, eu fui engolindo palavra por palavra... Assim dizia ele(meu irmão): Foi feito uma ultrassonografia e foi detectado que ela está com o fígado crescido e uma inflamação no pâncreas.

Totalmente leiga sobre o assunto, não senti medo, até porque já ouvira falar que pancreatite só quem tem é quem ingere quantidade excessiva de álcool... E minha mãe nunca bebeu.

Por desencargo de consciência, pesquisei através do Google e qual não foi a minha surpresa, quando li o seguinte:

Inflamação no pâncreas é pancreatite. O pâncreas é um órgão situado na parte superior do abdômen, aproximadamente atrás do estômago e que só se adquire pelo uso abusivo do álcool ou através de cálculos na via biliar.

Até aí,procurei me tranqüilizar na certeza de que além dela não beber não possuía cálculo na via biliar, já que há mais ou menos 2 anos atrás ela havia sido isenta de tais cálculos mediante uma cirurgia de vesícula.

Continuando, porém, a minha pesquisa eu constatei alarmada que na pancreatite, o principal sintoma é dor abdominal. A dor é geralmente localizada próximo “da boca do estômago”, podendo espalhar-se como uma faixa para os lados e para as costas. Hoje vejo com tristeza que a net, tem mais informação pra nos dar do que os médicos, os famosos “delinquentes de colarinho branco”.

Voltei ao passado e procuro recordar onde tudo começou... Há cerca de 3 ou 4 anos, minha mãe que sempre foi muito alegre, sorridente e dada à música, passou a ser uma pessoa que reclamava de tudo, medrosa e, principalmente dependente de mim.

Nesse ínterim ela se submeteu a uma intervenção cirúrgica... Tirou algumas pedras da vesícula... Mas, por outro lado, continuava reclamando de dores no abdômen, dores estas com os mesmos sintomas descritos acima como sintomas de inflamação no pâncreas.

Consultamos alguns médicos que só se limitavam a fazerem eletro cardiograma, já que ela informava que a dor se espalhava para os lados e para as costas.

Eu lembro que num certo final de semana na casa do meu irmão, ela foi acometida das tais dores, ocasião em que ele financiou alguns exames, cujo resultado foram todos normais, já que os incompetentes médicos consultados faziam girar tudo para o problema pressão e coração.

Lúcida, bem conservada e cheia de vida, ela mesma, acreditava tratar-se aquele incomodo, de problemas da idade, até que, num dia fatídico aquela dor abdominal, a qual ela havia se acostumado a conviver, cujo lenitivo eram alguns chás ou analgésicos, chegou de forma tão insuportável, que fomos obrigados a interná-la.

E aquela criatura que me colocou no mundo e que já fazia parte do meu ambiente com todos os seus defeitos e virtudes, foi definhando dia após dia sem que eu pudesse fazer nada, porque tudo que os médicos disseram não me convenceram nem vão me convencer jamais.

A médica que “cuidou” dela, havia decidido mudar a medicação aplicada a ela, somente após ter tido uma conversa com uma certa senhora amiga minha da mais alta sociedade Pessoense. Tarde demais. Antes disso, minha mãe, internada há oito longos dias, se foi “abruptamente” para nunca mais voltar.

A pergunta que não quer calar é: Se era possível mudar aquela medicação, por que então, ela não mudou antes, se até meu irmão se ofereceu para comprar medicamentos se fosse necessário?

A perda de meu pai foi dolorosa e levou metade da minha alegria. Mas, a perda da minha mãe deixou em mim um estado de profunda agonia. E nessas horas eu trago a memória um texto que a minha filha Dora, postou em seu blog por ocasião da morte do seu tio Francisco Casado em novembro de 2008. O texto tem como título:

Abruptamente (?!)

Tanta coisa por fazer. Tantos compromissos a cumprir. Tanta gente pra visitar. Tanto trabalho por concluir. Tantos desafetos para resolver. Tantas alegrias para viver. Tanto amor para dar... Até que ela apareça. E quase sempre sem avisar. Abruptamente. Não deveria ser tão inesperada assim, mas sempre é. Sempre temos a tola esperança de que há um modo de escapar dela.


Mas ela sequer pede licença. Não se incomoda com as formalidades do mundo. E não faz distinção alguma...


Deixa lacunas que não mais serão preenchidas. Deixa lembranças. E ironicamente os que distribuíram mais afeto e beleza, são os que deixam os maiores rastros de dor. Essas coisas fazem parte do “kit” da morte. E ninguém escapa.


Cada vez eu entendo menos. E cada vez eu percebo mais que nunca estarei preparada para ela. E não adianta dizer “heróica e bravamente” que não se teme a própria morte. Eu também não temo. Mas aí talvez esteja uma grande prova de covardia e egoísmo, porque sofre mais quem continua aqui na completa ignorância. Ninguém sabe o que há por trás da morte. Especula-se muito. Cada crença tem uma filosofia. Mas saber de verdade, ninguém sabe. Não tem como saber.


Quem fica, vê também que a vida continua apesar de tudo isso. Que amanhecerá um novo dia, como sempre. As pessoas ainda sorriem e se alegram. E as ruas estarão cheias de gente como antes. Está tudo igual. É como se aquilo não tivesse importância... aquela ausência não significa muito para o andamento do mundo.

O tempo não dá trégua, não faz pausas e é esse mesmo tempo que traz a cura, que traz consolo e alívio. Mas não sei bem se isso faz dele um vilão ou um mocinho... porque em breve essa ausência causadora de tantos lamentos será somente uma lembrança.

Outras vidas começam. Outras coisas acontecem. Novas alegrias surgem. E tudo vai se renovando aos poucos, até que um dia, talvez o motivo de todas essas lágrimas derramadas seja esquecido.


Eu não entendo muito bem, e tampouco gosto dessa idéia, mas sei que é assim. Sempre é assim. A morte, o tempo e o esquecimento são aliados fiéis. E eu não sei se isso é bom ou mau. Só sei que estou cansada”.

Eu também me sinto cansada!

Quem, porém, não conhece a perda de um pai ou de uma mãe, ainda não conheceu a dor do desamparo...

É um riso que ecoa no vento... É uma saudade dolorida dos momentos vividos em meio aos bons e aos maus momentos...

Eu e minha mãe

Ela e Edmundo

AnaXAna

Dora, minha filha e Ela

Ela e W, meu genro

Trek, meu segundo e ela

Isadora, minha segundinha e ela

E finalmente, ela e eu

Mãe é uma só... diz a sabedoria popular... E no meu caso...A minha era mais que mãe... Ela era companheira... Era filha ranzinza, cheia de travessuras, mas que ria um riso solto embalado ao som de uma música muitas vezes longe, mas que a deixava sempre feliz.

Com ela eu aprendi muito sobre a fé... Aprendi a ser solidária, a ser desprendida... A dividir... A dar aos filhos sem esperar de volta... Enfim, aprendi o valor da amizade e da relação familiar.

E novamente estou eu aqui... Relatando tudo isso neste cantinho, exatamente por que para sua última morada ela fez “Trilhas de Areia”.

Nós nunca iremos esquecê-la... O vazio da sua presença em nossa casa é uma constante na nossa lembrança. Somente o Espírito Santo de Deus, que intercede por nós com gemidos inexpremíveis haverá de nos consolar na doce esperança de nos encontrar um dia na grande mansão celestial.

Descanse em paz!!!

4 comentários:

Edmundo disse...

Parebinozo-lhe por tão emocionante cronica sobre a viagem de nossa mãe, que atendeu ao chamado de nosso PAI CELESTIAL,mesmo não acreditando ainda na sua ida, pois a cada instante a vejo diante de mim, no café da manhã, comendo um pão com bolo,nos almoços em minha casa,saboreando feijão verde, amssando-o com as mãos, fazendo um bolinho e fazendo questão que eu saboreasse aquele seu primeiro bolinho, e no jantar, se alimentando de uma deliciosa papa ou um prato de cuscus com leite; por isso mana, ela vai permanecer para sempre no meu pensamento e coração, até que um dia nos reencontremos na estação desta cidade eterna para de mãos dadas ela me encaminhar a presença do Deus Pai!Saudações maternas mana!!!!!

Bete disse...

Seis longos meses se passaram minha mãe e sua lembrança continua viva na minha lembrança. Quanta saudade!!! Descanso, porém, na doce esperança de encontrá-la um dia.

Aderaldo Luciano disse...

Olá, Bete, minha mãe, Dona Mocinha, partiu há 22 anos. Meu filho mais velho, Achiles, tinha três meses. Motivado pela crônica que escrevi em homenagem a ela, ele ligou-me e falou que lamenta muito não ter podido conviver com ela. Passamos quase a madrugada conversando ao telefone: Achiles em Campina Grande e eu no Rio de Janeiro. A perda do ente mais querido nos aproxima, a saudade nos irmana. Sinto-me irmanado a ti e a Edmundo. Deixo meu abraço e a certeza da Vida.

Bete disse...

Fazia muito tempo que eu aqui não vinha, já que a última "trilha" foi muito dolorosa. Agradeço, porém os comentários aqui postados e quem sabe brevemente não voltarei a postar!