domingo, 23 de agosto de 2009

EXECUÇÕES A FORCA

Quem visita a brejeira cidade areiense, se surpreende pela infinidade de atrativos proporcionados pela natureza e revelados através de histórias centenárias. Trilhas, cachoeiras, museus, engenhos em pleno vapor e o aconchego de um povo hospitaleiro seduz os visitantes do lugar, que aproveitam o clima ameno para descobrir os encantamentos de uma terra cheia de lendas, mas também de memória viva das histórias do passado.

Muitos, porém, se surpreenderiam se soubessem que Areia foi o único município da Paraíba onde a forca se ergueu e funcionou, não para executar presos políticos, mas para presos comuns, condenados à morte pela justiça local.

Segundo artigo da Prefeitura Municipal de Areia, o patíbulo(estrutura, tipicamente de madeira, usada para a execução por enforcamento), foi erguido nas imediações do matadouro público, inaugurando-se em 1847. Compunha-se de dois pesados esteios de madeiras fincados ao solo e ligados no alto por espaçoso travejamento. Havia ainda a escada por onde subiam o condenado, o carrasco e o sacerdote.

As execuções eram envoltas em um complicado cerimonial – o condenado era conduzido à igreja onde ouvia a missa até a recitação do credo quando então se formava o cortejo fúnebre composto por autoridades civis, militares, eclesiásticas, a tropa, o povo e até as escolas públicas com todos os seus alunos e professores (os quais na volta aplicavam em cada aluno meia dúzia de bolos para lhe servir de lição). A procissão partia lentamente até o campo da execução (antigo Grupo Álvaro Machado, hoje Colégio Estadual de Areia), parando de espaço a espaço para que o meirinho lesse a sentença e apregoasse em altas vozes; - Que morra de morte natural no lugar da forca! O carrasco era escolhido entre os presos, já condenado, que era tirado da cadeia e obrigado a cumprir o macabro ofício.

Duas execuções foram realizadas no patíbulo de Areia – em 1847, a do negro Marçal, escravo de Manoel Gomes da Cunha Lima, senhor do engenho Jussara e de Novo Mundo, por haver atacado e ferido seu senhor quando este açoitava sua esposa e a de Antonio José das Virgens, vulgo Beiju, a 8 de maio de 1861, acusado de assassínio do Dr. Trajano Augusto de Holanda Chacon.

Em “Resumos de Livros”, outro texto da Prefeitura Municipal de Areia, o autor diz que “não se perdoa os areenses a ausência de um marco histórico a assinalar o sítio funesto dos homicídios”. Nesse mesmo texto ele relata que quando perguntado a Marçal, qual seu último desejo, o mesmo, pediu doce com queixo e que na hora do enforcamento ele mesmo pulou para morte e antes soltando impropérios as autoridades presentes. Era o protesto de um revoltado, que fora condenado a morte porque defendeu sua esposa, também escrava.

Particularmente, apesar desse fato ser histórico, eu não vejo nele nada que faça com que os filhos de Areia possam se sentir enaltecidos ou orgulhosos. Portanto, não concordo com o autor quando ele frisa o fato de não se perdoar os areenses a ausência de um marco histórico a assinalar o sítio funesto de tais homicídios.

... Até quando ó Soberano, santo e verdadeiro... (Apocalipse 6:10).
Apenas como ilustração, postamos abaixo as imagens do Antigo Grupo Alvaro Machado, hoje Colégio Estadual de Areia, assim como também postamos o prédio onde funciona atualmente o Grupo Álvaro Machado.



FACHADA DO ATUAL GRUPO ALVARO MACHADO
FACHADA DO ATUAL COLÉGIO ESTADUAL DE AREIA

LOCAL ONDE FUNCIONOU A FORCA PARA EXECUÇÕES


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