domingo, 30 de agosto de 2009

MALANDRAGENS DE PARRÁ

Conta-se que certa vez, Parrá foi levar um carta vinda do Rio de Janeiro a uma senhora que morava na rua de Jussara, na cidade de Areia. No percurso, ele observou que havia também algum dinheiro dentro do envelope. O destinatário, era uma senhora de idade avançada, muito dada, que ficou muito satisfeita com a carta da filha ausente. Parrá, notando que a senhora não sabia ler, ofereceu-se logo para isso, o que foi de imediato aceito pela senhora. Ele abriu o envelope, contou logo o dinheiro e na sequência passou a ler com bastante ênfase as notícias enviadas, e como eram boas, a senhora ficou muito feliz. Antes das costumeiras despedidas, Parrá, por conta própria fez o seguinte aditivo à carta aberta:
“Mamãe, estou enviando cinqüenta cruzeiros que são para a senhora, entretanto, peço que retire uma nota de dez cruzeiros e entregue a este pobre carteiro, pois ele muito merece. Nada mais da sua filha e um grande beijo”.
Sem nem pensar, a pobre senhora, passou logo a nota para o esperto carteiro leitor, que saiu todo satisfeito.

Em outra oportunidade, já aqui em João Pessoa, aconteceu um lamentável acidente no Parque Solon de Lucena, quando perderam a vida, dezenas de crianças e adultos, em um naufrágio no centro da Lagoa, por ocasião de um passeio oferecido às crianças em um barco militar de propriedade do exército. Nessa ocasião, segundo alguns amigos do nosso artista, ele estava passando por uma crise financeira muito ruim. Estava em débito com a maioria dos amigos e principalmente com dona Zefinha, proprietária de um botequim onde Parrá costumava fazer suas brincadeiras cotidianas. Aproveitando o acidente da Lagoa, Parrá pediu aos companheiros que avisasse a D. Zefinha que ele havia falecido também no tal acidente, de maneira que não havia mais nenhuma chance de quitar o débito com ela. Ao saber da notícia, Dona Zefinha ficou muito triste e comovida, pois embora ele fosse o cliente mais trabalhoso para pagar as contas, ela gostava muito de suas brincadeiras, de suas piadas, do seu jeito moleque e principalmente do respeito que ele demonstrava por ela. Por isso, não somente o perdoou, como a partir daquele dia passou a rezar por ele.

Passados alguns dias, Vinha Dona Zefinha ao entardecer passando pela lagoa, quando foi surpreendida pela presença de Parrá que despreocupadamente passeava pelo calçadão muito bem trajado, camisa aberta no peito e usando seu inconfundível chapéu de malandro. Ao se aproximar dele, foi logo indagando: “Como pode você está por aqui?”
Parrá sem demonstrar qualquer surpresa, foi logo se transfigurando, ficou com os olhos esbugalhados e com uma voz misteriosa falou: “eeeu moorrriii, eeeu moorriii, meu castigo é ficarrr eternamente arrodeando essa lagoa por causa dos meus pecados... e minhaaaaas díííviiidas...!

Dona Zefinha ao ouvir isso, ficou totalmente arrepiada , fechou os olhos por uns instantes, saindo em seguida completamente atordoada de volta para o seu barraco.
Nem santo escapava das malandragens de Parrá!

Conta-se que certa vez tendo se curado de uma grave enfermidade as custas de uma promessa feita a Nossa Senhora da Penha, cuja penitência era ir de joelho até o santuário da Penha localizado na praia de mesmo nome, distante dez quilômetros do centro da cidade de João Pessoa, onde deveria acender uma vela, fazer algumas preces e depositar uma ajuda para os necessitados da comunidade. A primeira coisa que Parrá fez, foi alugar um taxi na lagoa, mandar o motorista afastar o banco dianteiro para frente e ficando de joelhos na parte traseira do veículo, ordenou ao motorista que fosse até o santuário da Penha onde ele deveria cumprir o restante de sua promessa. Chegando no santuário, procurou uma vela usada, deixada aos pés da santa por alguém, e após acendê-la partiu para o local das ofertas, onde piedosamente colocou uma nota de cinco cruzeiros e de forma discreta tirou uma de dez como troco. Na porta da igreja, encontrou o padre da freguesia, manifestando nessa hora o desejo de se confessar. Apiedado, o sacerdote o conduziu ao confessionário onde após ouvi-lo, concedeu-lhe o perdão. Logo no início da confissão, Parrá dialogou com o padre sobre um certo tormento mental que lhe vinha incomodando, fazendo ao confessor uma pergunta por demais curiosa:
- “Seu Padre, uma coisa que eu nunca fiz e nem tenho vontade de fazer é pecado?”
- “Não meu filho, se você nunca fez nem tem vontade..., não pode ser pecado, em absoluto”.
“Graças a Deus seu Padre, o senhor me tirou um peso de mais de cem quilos da consciência, pois eu nunca paguei uma conta a ninguém, nem tenho qualquer vontade de pagar”. Sem deixar nenhum espaço para o padre se arrepender da absolvição prévia a ele concedida, Parrá levantou-se rapidamente do confessionário e saiu direto para a mesa da comunhão, de consciência tranqüila.

Era mais ou menos assim a personalidade de Parrá que fez muitos areienses sorrir acalentados pelo frio brejeiro da minha terra natal.

Bons tempos aqueles...

5 comentários:

Edmundo disse...

Olha mana, eu tenho algumas mungangas do velho malandro Parrá:
Certa vez ele ficou por um longo tempo hospedado no hotel de Dona Maria Silva, lá na nossa terrinha, e nada de pagar a hospedagem; de repente foi transferido dos Correios de Areia prá J.pessoa. Certo dia,sem esperar deu de cara com D.Maria Silva,no viaduto Damasio Franca,oonde ela foi logo reclamando o débito de Areia: seu safado, velhaco sem vergonha, pague meu dinheiro sujeito nojento; Parrá friamente no meio da multidão,sabendo que aquilo tudo era com ele, olhou friamente nos olhos de D.Maria e retrucou,mas a senhora disse isso tudo com ele? Veja só, ele na multidão se saiu bem, pois ningué4m sabia que era com ele(PARRA) aquela cobrança. Ele foi e continua sendo um verdaDEIRO ARTISTA!

Dora Casado disse...

Esse Parrá era uma figura, hein?! Divertido, ele. E gente assim, vê o mundo diferente.
A-quele a-braço, viu?!

Bete disse...

"Aquele!", Dora.

Unknown disse...

Adorei lembrar Parrá...lembro dele sim...muito falante, cheio de prosa...e com essa de se poassar por morto me fez rir até demais!!!
Adorei!

historia de areia (pb) disse...

eu sou nascido em areia mais sai de lá muito cedo prar morar em joao pessoa devido o falecimento do meu pai, por isso ñ consigo lembrar desse parrá, mais pelo jeito ele era muito divertido levava as coisas serias na bricadeiras. se quiser sse comunicar comigo meu email é ededinald@hotmail.com foi um prazer te encontrar aqui bjs.